Queria que todas as mulheres negras ou não lessem esse texto.
Hoje a noite recebi um inbox no facebook da Melissa Caroline. Mulher jovem e negra. Moradora aqui do Cantinho do Céu, na Zona Sul de São Paulo.
Na conversa a Melissa me pediu que eu publicasse uma situação absurda que aconteceu com ela enquanto voltava do trabalho para casa dentro do ônibus.
"Laura, conheço seu trabalho, sei que tem um blog, conheço os assuntos e queria pudesse compartilhar uma triste e vergonha e caso lhe seja de interesse quero pedir que publique isto, pois embora, seja algo que me traumatizou, peço opiniões e ajuda pois minha mente está revirada de pensamentos...
Bom eu sou uma mulher negra, e todos os dias acordo 4:20 da manhã para ir trabalhar, e meu trabalho é algo pesado mais não reclamo pois me sinto igual a todos no meu serviço, sou tratada como mulher e homem, e isto me deixa realmente exausta, e nesta terça feira como de costume, peguei o ônibus de destino cantinho do céu, para a minha casa, e como estava extremamente exausta, dormi no banco do ônibus, ao estar chegando perto de meu bairro, acordo e reparo que um homem estava com a mão dentro da minha blusa, e assim que vejo isso, levei um susto, não tive reação, comecei a chorar dentro do ônibus, pois algumas pessoas viram e ignoraram o fato, me senti abusada, me senti usada, mas também senti um ódio profundo, e decidi descer ao mesmo ponto que ele e fazer algo, claro que com a raiva que estava não me segurei, e o ataquei no meu da rua, bati, e ofendi aquele homem, embora não conhecesse aquele homem me senti ferida, com todo aquele ódio em cima de mim, me sentia abusada por alguém que se quer conhecia, ou tinha qualquer relação, e mesmo cometendo este ato que não era a melhor opção, agredi aquele homem, mas fui separada por homens que me seguraram e defenderam o cara que cometeu está atrocidade, pois ele estava fingindo estar bêbado e fugiu, e até agora me sinto abusada, e não sei como tratar essa situação."
Quantas mulheres que estão lendo esse texto já passaram por esse tipo de situação algum dia de nossas vidas?
Ja ficou natural que a gente se veja, lembre, reviva uma situação de abuso e invasão dos nossos corpos. Isso ja ficou tão naturalizado, que não aceitar isso, gritar, bater, ou apenas questionar o abuso estamos sofrendo é que se torna escandaloso.
Desde pequenas ensinas a aceitar que nossos corpos podem ser invadidos, e que isso só vai acontecer se a gente deixar. E se acontecer a culpa é nossa, e só nossa!
O corpo das mulheres negras sempre foi hiper sexualizado. Somos vistas apenas como objetos, como coisas exóticas, prontas para serem estudas, tocadas, prontas para saciar o desejo dos homens. Mulheres negras são as que mais sofrem violência sexual e agressão física. Mulheres negras são as que mais carregam traumas psicológicos por isso.
Somos tratadas como coisas. Coisas. Não somos coisas!
O que passa na cabeça de um homem para por a mão dentro da nossa blusa e invadir o nosso corpo, como se fossemos apenas objetos de loja?
Nos estamos sujeitas a esse tipo de violência cotidianamente, nas ruas, no nosso trabalho ou mesmo no transporte. Perdi as contas de quantas amigas que pensam até em pedir demissão pois não aguentam mais o assedio diário que sofrem no trabalho. Que não aguentam mais o assedio dos colegas de sala de aula...
Podem pensar que esse texto é mais um texto de uma feminista que gosta de gritar e dizer que seu corpo não e objeto.
Eu queria que todos os homens lessem esse texto também.
Quero que vocês entendam que quando falamos sobre feminismo, sobre o corpo da mulher, não pode ser um debate formal.
Sinto que grande parte dos homens que dizem se indignar com estupros, assédios e mais um tanto de imundícies que rodeiam a vida das mulheres, na maioria das vezes levam essa discussão de maneira formal, e uma hora ou outra acabam entrando para a lista de escrotos que infelizmente passam por nossas vidas deixando marcas.
Queremos que vocês entendam que quando nos beijam ou nos tocam sem nosso consentimento, vocês nos matam um pouco mais! Voces nos invadem!
Não temos mais sequer o direito de ficar cansadas, de tirar 5 minutos de sono, pois nos vemos obrigadas a estarmos ligadas incessantemente, sem parar, para garantir que não seremos invadidas ou abusadas. E quando ousamos revidar, somos impedidas, somos ridicularizadas, somos culpabilizadas. Não deveria ser assim! O nosso corpo não e um objeto!
A culpa não é nossa! A culpa não é sua mulher!
Nosso corpo não esta em uma bandeja, não esta em uma prateleira para ser visto, tocado ou analisado como um objeto! Não somos coisas!
Nosso corpo é nosso! E quem deve decidir quando ele pode ser tocado somos nos! Ninguem tem o direito de nos invadir, de nos agredir!
Expor uma situação não é fácil para nenhuma mulher, e expor algo como isso passa por uma situação tão desesperadora, que as vezes a unica saída que temos é de publicizar e assim dar o nosso grito de jeito que ele possa ser ouvido em outros lugares, talvez que ele seja ouvido no mundo.
O corpo é nosso! Chega de violência!
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