quinta-feira, 25 de junho de 2015

Porque a USP tem medo das cotas raciais?

E rancorosos, maldosos muitos são,
Quando falamos numa miníma reparação:
- Ações afirmativas, inclusão, cotas?!
- O opressor ameaça recalçar as botas..
Nos mergulharam numa grande confusão
Racismo não existe e sim uma social exclusão
Mas sei fazer bem a diferenciação
Sofro pela cor, o patrão e o padrão
-Carta a Mãe Áfria (GOG)

Talvez seja a primeira vez que você esteja lendo um texto sobre cotas raciais. Talvez seja a centésima vez que você está lendo um texto sobre cotas raciais e por acaso saiba que quando exigimos as cotas raciais, estamos exigindo reparação histórica a um povo que foi retirado de sua terra mãe e trazido a força para uma terra estranha, sofrendo os piores e mais bárbaros tipos de violência. 

Não bastasse os séculos de escravidão sofridos pela população negra, após a escravidão nos lançaram nos mesmos postos de trabalho, só que agora, com um fator interessante, estavamos livres! A Lei Áurea havia sido assinada. 

São menos de cento e cinquenta anos sem escravidão no Brasil, e as marcas de quase quatro séculos de exploração da população negra ainda seguem fortes e presentes. 

No Brasil, um jovem negro tem 160% de chances de ser assassinado a mais que um jovem branco, as mulheres negras tem 53% de chances de sofrerem violencia sexual, ocupamos 60% dos postos mais precários de trabalho (limpeza, cozinha, telemarketing, trabalhos domesticos), recebemos os mais baixos salários. 

A Universidade de São Paulo, é a principal universidade do país e nega-se a discutir o problema do racismo. Nega-se a discutir o número infimo de 7% de negros ocupando as cadeiras das salas de aula, enquanto a população brasileira é de maioria negra. 

Desde o inicio do ano a ofensiva do movimento negro tem sido grande para que a USP passe a aderir ao sistema de cotas raciais e sociais, como uma real medida de democratização do acesso ao ensino superior. 
Desde iniciativa criada por alunos negros como as Ocupações Pretas em salas de aula e Conselhos Universitários, até o ato do 13 de maio, quando o movimento negro entrou na universidade exigindo o fim do racismo e cotas raciais, até o mais recente acontecimento, o I Seminário de Negros e Negras da USP, que serviu como um fórum que contou com centenas de estudantes da USP, dos mais diversos cursos e campus da universidade. 

Mas afinal, porque a USP tem medo das cotas? 

A USP foi criada para formação de quadros brancos e da burguesia, como já cansamos de ouvir por aí "da usp sai a elite brasileira", e essa elite tem raça e classe. 
Desta universidade saem nomes como Fernando Haddad e Fernando Henrique Cardoso. 

O pretinhos podem querer com a USP?

Não atoa, os apenas 7% de alunos negros que existem dentro da USP, sempre questionaram a forma como o acesso a essa universidade é feito. A FUVEST é o vestibular mais disputado do país, e também o mais difícil. 
Os jovens negros de escola pública não tem condições objetivas de realizarem uma boa prova, e isso acontece por um motivo simples, o ensino básico da população negra é público e por isso precário; as salas de aula são super lotadas e além de estudarmos precisamos trabalhar, não temos condições de fazer um cursinho e na maioria das vezes precisamos optar por trabalhar ou entrar na universidade. 

Todos estes fatores nos impedem de entrar em uma universidade como a USP. 

Quando ocupamos as salas de aula desta universidade, estamos querendo dizer que estamos cansados de rostos brancos nos ensinando, cansados de ver apenas rostos brancos pelos corredores, banheiros, bandejões e lanchonetes. Estamos cansados de entrar no circular e ver apenas rostos brancos, exceto o do cobrador e motorista. 
Quando ocupamos as salas de aula desta universidade, estamos querendo dizer que já passou da hora de os corredores e salas de aula estarem mais negros e corresponderem ao fato de que a maioria da população é negra, nada mais justo do que ocuparmos formalmente estes lugares. 

No ultimo conselho universitário a USP aprovou o ENEM, enquanto a luta do movimento negro e movimento estudantil segue sendo por cotas raciais. 
Aprovaram o ENEM, deslegitimando assim toda a luta travada por todo o movimento negro. 

A pergunta que fica é, porque não cotas raciais? Porque é tão dificil a USP e o estado de São Paulo admitirem que são racistas e elitistas e por isso não querem nos dar algo que nos é de direito? 
Qual justificativa para isso? 
Enquanto a população negra sofre por todos os lados com centenas de ataques, como a redução da maioridade penal, aumento do tempo de prisão para menores infratores, é necessário estamos ainda mais firmes na luta por reparação histórica e imediata do povo preto!

É necessário OCUPAR, ENEGRECER E FAZER DA USP UM QUILOMBO! 
Contra o racismo! 
Contra a precarização do ensino!
Por cotas raciais já!